Ser professor, seja de dança ou de qualquer outra área do conhecimento, é um desafio. Sobretudo no início, transmitir os conhecimentos técnicos aprendidos durante a carreira parece ser o menor problema; difícil é descobrir a melhor forma de fazer cada conhecimento ser assimilado pelos alunos, que são, em geral, muito diferentes com relação ao tempo e às dificuldades de aprendizado.
Felizmente, muitos pesquisadores se debruçaram sobre assunto e elaboraram teorias do aprendizado, que podem ajudar a entender de que forma as pessoas aprendem. O ideal não é optar por uma teoria ou outra, mas mesclar esses conhecimentos para criar dinâmicas de aula que favoreçam o aprendizado real. As dicas abaixo são baseadas em algumas dessas teorias. Confira!
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1 - Estude didática, e não apenas dança
A primeira dica você já está colocando em prática lendo esse texto. O professor funciona como um gerente do processo de aprendizagem do aluno e precisa adquirir uma série de habilidades além do conhecimento técnico sobre o que ensina. Busque por atividades e conteúdos focados em pedagogia e educação, adaptando-os ao contexto da dança. A psicologia da dança também já possui bastante embasamento teórico para direcionar o ensinamento da atividade.
2 - Observe o nível de maturação do conhecimento em seus alunos
Piaget defende que o conhecimento é desenvolvido através da interação do meio com o ser humano, sendo que vários processos estão envolvidos no aprendizado. Observar um novo movimento, por exemplo, é um processo de assimilação, em que o indivìduo internaliza uma nova informação aos esquemas já existentes de sua organização interna. Já ajustar seu equilíbrio corporal para executar esse movimento é o processo inverso, de acomodação - quando são os esquemas internos que têm que se ajustar à nova informação.
Para que ambos os elementos ocorram, é necessário maturação. Diversas habilidades precisam ser adquiridas e o desenvolvimento global precisa atingir certo amadurecimento para que o sujeito possa aprender novas competências e conhecimentos. Por isso, esteja atento ao grau de maturidade do desenvolvimento corporal dos seus alunos na hora de escolher os conteúdos. Faça revisões quando sentir que a maturação de um conteúdo não ocorreu ou é insuficiente, e opte por novos conteúdos e competências quando sentir que o aluno ou a turma já atingiu certo equilíbrio no aprendizado anterior.
3 - Identifique o quanto de auxílio cada aluno precisa
O teórico russo Vigotsky criou a teoria da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que é a zona de aprendizagem que ainda não é real e independente. Basicamente, a ZDP se refere a conhecimentos e tarefas que o indivíduo ainda não domina sozinho, mas consegue realizar com a assistência de outra pessoa - geralmente, um professor. Há bailarinos que memorizam rapidamente a coreografia ou os passos, e têm competência para ensaiar e treinar sem muito auxílio, enquanto outros têm mais dificuldade e precisam ser nivelados ao grupo com recursos, apoio e estratégias do professor. Fica mais fácil atuar com correções e dinâmicas de grupo identificando a ZDP de cada um.
4 - Monte um plano de aulas que considere um conhecimento gradativo
Apenas montar um plano de aulas já pode ser novidade para alguns professores - então, se você ainda não tem o hábito de fazer isso, comece por aí. Aperfeiçoar o plano de que forma os passos e técnicas possam ser assimilados num nível gradual de aumento de dificuldade parece lógico, mas é desafiador - e pensar nisso previamente pode fazer uma diferença enorme para os seus alunos.
David Ausubel defende o conceito de aprendizagem significativa, em que esta ocorre a partir do conhecimento prévio que o indivíduo já tem, ou sua estrutura cognitiva. O esforço do educador deve ser estabelecer uma relação entre o conteúdo que já foi aprendido pelo aluno e o conhecimento a ser adquirido. Procure não passar de um conhecimento a outro de forma artificial. Transfira os conceitos, movimentos e consciência corporal de uma técnica ou coreografia para aprender uma técnica nova, tornando o processo mais contínuo e transformando informações em conhecimento de fato.
5 - Faça exercícios de observação
Indivíduos assimilam informações a partir da observação, o que torna tão importante a demonstração correta dos movimentos a serem ensinados. Mas eles não tomam como base apenas os professores - principalmente em aulas em grupo, os alunos observam uns aos outros o tempo todo e imitam ou tentam imitar o que consideram ser o certo. Isso é orgânico e natural, mas pode ser melhor direcionado por um professor: faça dinâmicas de grupo que valorizem a observação, como coreografias, ou separe momentos da aula para execução individual de movimentos. Isso permite aos alunos observar a todos, e também permite uma melhor avaliação do aluno pelo professor.
6 - Demonstre, fale, toque
A teoria por trás dessa dica é complexa, mas talvez a mais efetiva na aprendizagem da dança. Baseada no processamento de informações, ela é o foco de um modelo de ensino-aprendizagem chamado bottom-up/top-down. Calma que a gente explica. Esse modelo considera dois “caminhos”: a estratégia bottom-up, em que a informação vai das sensações corporais e fisiológicas para o cérebro, e a estratégia top-down, em que a informação é processada pelo cérebro e depois é executada pelo corpo.
Esses dois caminhos se alimentam mutuamente: o aluno executa um movimento e as informações sensoriais são enviadas para o cérebro, que codifica as informações e as orientações do professor; quando o aluno executa novamente o movimento, ele está aperfeiçoado. Existem três principais estratégias aqui: demonstração do movimento, direcionamento do movimento através da fala e manipulação do corpo do aluno. Muitas aulas são baseadas em apenas uma delas, o que causa falhas no processo - se a sensação registrada pelo aluno não for a correta, por exemplo, ele terá dificuldade para aperfeiçoar o movimento, mesmo seguindo o que é falado pelo professor.
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7 - Elogie, mas não demais
O modelo comportamental de aprendizagem se baseia em reforço e punição - elogiar bons comportamentos, como foco nos movimentos, e repreender os inadequados, como conversar na aula, por exemplo. Esse modelo deve ser usado com moderação, principalmente no ensino dos movimentos. Primeiro, sempre preze mais pelo reforço do que pela punição - afinal, a punição mostra vários caminhos incorretos, além de em excesso fazer o aluno se sentir desvalorizado, enquanto o reforço mostra o caminho exato a ser seguido. Mas não exagere - reforço demais perde força e faz o aluno desacreditar da aprovação do professor.
8 - Motive seus alunos
E mais importante que isso, não desmotive - mesmo sem querer. Alguns alunos têm motivações internas fortes, como gostar muito da atividade ou provar a si mesmos que conseguem fazer. Outros precisam de motivações externas, como prêmios e recompensas sociais. Saber identificar quem é quem é importante, mas entender que a motivação se baseia na crença do aluno sobre sua própria capacidade de ter sucesso (o que chamamos de autoeficácia) é a chave da questão.
Ofereça desafios correspondentes à capacidade e à crença no sucesso de cada um. Alunos com alta autoeficácia precisam de tarefas bastante desafiadoras para serem motivados, enquanto que exigir demais de alunos com baixa autoeficácia pode fazê-los desistir, por acreditarem não serem capazes de executar os movimentos. Também entenda as motivações dos seus alunos e, principalmente para os extrinsecamente motivados, promova atividades que estimulem o desenvolvimento com base em recompensas, como coreografias e competições leves.
REFERÊNCIAS:
Lopes, M.C. (2019). Curso psicologia da dança: temas e perspectivas. Editora Garcia. Juíz de Fora, MG.
COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:
Lopes, M. C. (2020, julho 15) Ensinando a dançar: 8 dicas que vão ajudar seus alunos a aprenderem muito mais [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/ensinando-a-dan-ar--8-dicas-que-v-o-ajudar-seus-alunos-a-aprenderem-muito-mais.html
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