Atualmente, a saúde não é vista do ponto de vista da ausência de doenças, e sim, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), como um estado físico, mental e social de bem estar completo (WHO, 1947). A saúde psicológica e emocional do indivíduo, muito além das moléstias físicas, é vista como de extrema importância para o bem estar do ser humano, em diversos contextos.
Por isso, enfermidades relacionadas à saúde psicológica do indivíduo, tais como ansiedade e depressão, que têm causas e consequências muitas vezes múltiplas e mais complexas que doenças físicas, são hoje estudadas mais a fundo, bem como suas formas de prevenção e tratamento. E a dança pode ser uma alternativa nesse sentido, tanto como atividade para manutenção do bem estar do indivíduo como terapia complementar de combate a transtornos já estabelecidos.
De acordo com Castilho et al. (2000), ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. O que diferencia a ansiedade normal e saudável de uma ansiedade patológica, que é exatamente o que desejamos combater no dia a dia, é seu tempo de duração e os estímulos a que está relacionada. Existem muitos tipos de transtornos de ansiedade, relacionados a traumas, separações, estresse, doenças físicas e até mesmo outros transtornos, como depressão, por exemplo, e geralmente seu diagnóstico não é acompanhado de uma causa específica, mas de uma compreensão global do indivíduo.
Logo, como forma de prevenção à ansiedade, a dança tem um papel importante principalmente no que concerne ao combate ao estresse e à promoção do bem estar do indivíduo no dia a dia, tanto físico quanto mental. Como qualquer atividade física, ela é responsável pela liberação de hormônios como a endorfina no organismo - tal como apontam Santos e Oliveira (2019), tal hormônio se refere a um componente endócrino que proporciona sensação de bem estar, quando as células do corpo os recebem. Estudos também mostram a liberação de outras substâncias motivadas pela prática da dança, como dopamina e serotonina, consequências do trabalho dos níveis de autoestima, confiança e motivação que ocorrem na dança e são fundamentais para a saúde integral do indivíduo (Hong et al., 2005).
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A ansiedade decorrente de traumas, cientificamente denominada Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT), também pode ver ter na dança uma terapia complementar para os indivíduos que sofrem dessa condição. Em estudo conduzido em 2002 por Mills e Daniluk, o pressuposto foi de que traumas físicos são melhores acessados através de estratégias corporais, ocasião em que testaram a efetividade da teoria com vítimas de abuso sexual. Os resultados mostraram que as mulheres envolvidas no estudo puderam, através da dança, ressignificar seu corpo e sua relação com ele, auxiliando na condição posterior ao trauma.
Em suma, todas as condições patológicas de ansiedade devem ser diagnosticadas e tratadas com profissionais e procedimentos adequados, envolvendo psicoterapia e medicação quando necessário. A dança, porém, é ferramenta muito útil no dia a dia, seja como complemento aos demais tratamentos, seja como atividade preventiva dessas condições. E não só: numa compreensão integral de saúde e do próprio indivíduo a dança e a expressão corporal são fundamentais para o bem estar do ser humano em todas as fases de sua vida, e devemos trabalhar para torná-la uma prática acessível e constante para todas as idades.
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Como atividade lúdica, a dança tem outros impactos positivos na saúde emocional dos indivíduos. Por ser uma prática social, a dança tem um papel importante na inclusão e socialização de pessoas e grupos, evitando o isolamento social, uma das fontes e consequências de vários transtornos de ansiedade. Pereira et al. (2019), em seus estudos, ressaltam também a dança como fator de transformação psicossocial, melhor expressividade e autopercepção das emoções dos avaliados. A expressão dos sentimentos e emoções através do corpo, bem como o entendimento de si mesmo por parte do indivíduo, são caminhos possíveis para a prevenção e também combate da ansiedade, e também de outras doenças, como a depressão.
A dança é uma ferramenta bastante poderosa na superação das diversas fases e mudanças do desenvolvimento humano, muitas delas marcadas por fatores potenciais de transtornos de ansiedade. Segundo Pereira et al. (2019), estudos sobre a prática da dança entre adolescentes mostra uma melhora atribuída a diversos fatores, desde o controle de níveis hormonais associados à depressão e ansiedade, sociabilidade, aumento da afetividade e até mesmo o conhecimento e domínio de si, gerando um bem estar físico e mental. Pontos como a criatividade, valorização pessoal e autonomia foram fatores de aproximação significativa do viver da população estudada, abrindo espaço para o autoconhecimento. Já do outro lado da pirâmide etária, a melhora das condições físicas do idoso e o reforço à sua independência, bem como sua integração social, são fatores determinantes para combater a ansiedade e promover o bem estar do indivíduo.
REFERÊNCIAS:
Castilho, A. R. GL, Recondo, R., Asbahr, F. R., Manfro, G. G. (2000). Transtornos de ansiedade. São Paulo, Rev. Bras. Psiquiatr. vol.22 s.2. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44462000000600006&script=sci_arttext>. Acesso em 26 de abril de 2020.
Jeong, Y. J., Hong, S. C., Lee, M. S., Park, M. C., Kim, Y. K., Suh, C. M. (2005). Dance movement therapy improves emotional responses and modulates neurohormones in adolescents with mild depression. International Journal of Neuroscience, 115(12):1711-20.
Lopes, M.C. (2019). Curso psicologia da dança: temas e perspectivas. Editora Garcia. Juíz de Fora, MG.
Mills, L. J., & Daniluk, J. C. (2002). Her body speaks: The experience of dance therapy for women survivors of child sexual abuse. Journal of Counseling & Development, 80(1), 77-85.
Pereira, S. H. L., Sousa, S. L., Silva, C. R. C., Silva, E. S. (2019). Impacto da dança na saúde mental dos adolescentes: uma revisão sistemática. Caruaru, Pernambuco, Brasil.Associação Caruaruense de Ensino Superior – ASCES.
Santos, L. B., Oliveira, E. S. A. Dança e atividade física: a importância de ambos visando a promoção da saúde. IV Colóquio Estadual de Pesquisa Multidisplinar.
World Health Organization (1947). Constitution of the World Health Organization.
COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:
Lopes, M. C. (2020, junho 02). Saiba como a dança pode ajudar a prevenir e combater a ansiedade [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/saiba-como-a-dan-a-pode-ajudar-a-prevenir-e-combater-a-ansiedade.html
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