A ideia de propor esta reflexão com vocês veio após o lançamento do programa chamado “RAD Project B” feito pela Royal Academy of Dance que trata justamente de um conjunto de iniciativas com o objetivo de aumentar o acesso de garotos à dança e encorajá-los a estudar ballet. A Royal está realizando um investimento alto para promover suporte aos bailarinos nos próximos três anos. Pensando sobre o assunto, logo nos perguntamos, “mas qual o motivo deste investimento específico para homens?”. Este tema está presente em nosso cotidiano há muito tempo, mas será que já paramos para refletir sobre?
Temos um volume de vídeos divulgados nas redes sociais considerável com homens dançando ou até mesmo meninos falando sobre suas experiências com o ballet. As empresas estão mobilizadas em romper este tabu, tanto que um comercial de produto de limpeza de uma marca conhecida de uso doméstico, trouxe o bailarino americano Daniel Cloud Campos que atua na Broadway como protagonista e que só no youtube tem mais de 4 milhões de visualizações. Também faz algum tempo que foi lançado o comercial de celular com o dançarino alemão Swen Otten integrante do grupo de dança "Just Some Motion" como protagonista e a repercussão foi tão positiva que virou uma campanha publicitária com uma série de anúncios em diferentes países. Mesmo assim, ainda existe preconceito e resistência para falar sobre o assunto.
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Não podemos fugir deste tema, precisamos entender para esclarecer aos pais e incentivar homens e meninos a ingressarem na dança. Quando observamos uma sala de aula, encontramos uma turma predominantemente feminina. Porque ainda temos dentro de uma sala de aula de dança somente alguns homens? Isso não se resume a descriminação ou preconceito, mas a falta de incentivo de todos para que o menino, o jovem, seja o que ele quer ser e não o que os “padrões” impõem e isto não está ligado à sexualidade, mas ao seu desenvolvimento enquanto indivíduo.
Precisamos refletir profundamente sobre como educamos nossas crianças. Na maioria das vezes pensamos que as brincadeiras que fazemos com os outros na frente das crianças são inocentes e meras piadinhas, mas o quanto passamos a mensagem errada, pois um adulto que brinca com o filho dizendo que ballet é coisa de menina ou rosa é coisa de “frutinha”, demonstra desgosto por isso, transmite a mensagem à criança de que para o adulto gostar dele (do filho), ele precisa odiar ou se afastar destas coisas, ou, gostar daquilo que o adulto gosta e valoriza. Devemos parar e pensar como falamos com nossas crianças que mensagem realmente estamos transmitindo a elas!
Nós, professores e diretores de escolas, temos um importante trabalho de esclarecimento e incentivo tanto aos pais quanto aos alunos homens, pois no início do artigo eu citei o trabalho da Royal, mas temos muitas outras escolas pelo mundo todo, inclusive aqui no Brasil, promovendo projetos similares. Ao desenvolver um projeto que incentive o masculino na dança é importante considerar alguns aspectos fundamentais: reconhecer e trabalhar com as necessidades exclusivas dos jovens estudantes de dança; inspirá-los com modelos masculinos; estimular a criatividade e o trabalho em equipe; oferecer desafios; promover a troca de experiências e a competição saudável com outros garotos; respeitar as diferenças, mas sem perder o sentimento de igualdade; saber ouvir os rapazes, como se sentem, o que desejam alcançar. Normalmente as escolas possuem salas mistas de alunos e isso é positivo para o desenvolvimento na dança, mas lembre-se de envolver o aluno, incorporá-lo na aula com um olhar específico também, assim como elaborar um plano de aulas exclusivas.
O jovem que encontra a inspiração na dança, pode se sentir livre para seguir as suas escolhas e não fazer o que os outros querem que ele faça. Valorizá-los é entender seus anseios, seus sonhos e auxiliar na construção do caminho que levará a esta conquista e a superação de todos os desafios.
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