Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

Com base nestas ponderações é possível concluir que apesar da dificuldade em definir o conceito de bem estar, este está relacionado à compreensão de qualidade de vida, felicidade e satisfação que buscam a promoção e desenvolvimento do bem estar. Os diversos âmbitos da vida devem ser considerados para definir a própria felicidade, porém, o panorama geral é o mais importante. Neste sentido, a promoção do bem-estar nestes âmbitos é importante para promover também a felicidade.

A dança é defendida por muitos como promotora de bem-estar e estes conceitos são importantes para compreendermos de que maneira a dança pode ajudar. Em relação ao conceito de felicidade, por ser puramente subjetivo, é importante que o aluno ou bailarino sintam prazer em dançar e que esta seja uma experiência prazerosa e transformadora. Já em relação ao bem-estar, o mesmo processo pode ocorrer pela definição de bem-estar subjetivo de Ed Diener, porém, para a definição de bem-estar psicológico de Carol Ryff o mesmo já não é necessariamente verdade.

O conceito de bem-estar psicológico descreve os aspectos já citados (autonomia, crescimento pessoal, sentido de vida, aceitação pessoal, relações positivas com os outros e domínio do ambiente). A dança pode desenvolver diversos destes aspectos e promover bem-estar. O formato grupal da dança favorece vínculos positivos. A expressão através do movimento possibilita a aceitação pessoal. A apresentação no palco desenvolve autonomia. A possibilidade de desenvolver um projeto profissional através da dança permite também que o sujeito desenvolva um sentido de vida. Outros aspectos da dança também podem favorecer o desenvolvimento de bem-estar e felicidade, seja pelo aspecto subjetivo ou concreto.


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O bem-estar já foi extensamente alvo de estudos científicos nos mais diversos âmbitos (Diener, Suh, Lucas & Smith, 1999, Brown & Ryan, 2003, Gross & John, 2003). O interesse principal dos estudos foi compreender o que é o bem-estar (e suas implicações) além de compreender fatores que possam desenvolvê-lo e compreender os efeitos do bem-estar em diferentes populações. Há muitas teorias e definições de bem-estar e termos correlacionados, assim como felicidade e qualidade de vida (Veenhoven, 1984). Conceituar o bem-estar pode não ser tarefa fácil.

Carvalho e Dias (2012) revisitam autores importantes para a construção do conceito de bem-estar. A discussão é feita a partir do paradigma salutogênico e positivo da saúde mental que explora causas e consequências da saúde mental. O primeiro autor é Ed Diener que desenvolve seu modelo de bem-estar subjetivo em que “a satisfação com a vida e a felicidade são os componentes centrais deste modelo (...) o bem-estar é subjetivo, pois resite na experiência do indivíduo” (Carvalho & Dias, 2012, p. 139). O modelo de bem-estar subjetivo de Ed Diener prevê uma avaliação de bem-estar global. Conceituando o bem-estar subjetivo Diener (1994) o descreve como uma experiência individual. Este modelo também remete ao conceito de felicidade de Veenhoven (1984) quando coloca o julgamento individual em foco.


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grupo de pessoas dançando coreografia

A felicidade e o bem- estar: conceitos e aplicação no mundo da dança

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.
Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

A autora seguinte revisitada por Carvalho e Dias (2012) é Carol Ryff que desenvolve um modelo de bem-estar psicológico. Um termo utilizado por Carol Ryff para se referir a um aspecto de bem-estar é eudaimonia que se refere ao processo de desenvolvimento do bem-estar. Carol Ryff também desenvolveu seis dimensões da narrativa do desenvolvimento saudável e positivo: autonomia, crescimento pessoal, sentido de vida, aceitação pessoal, relações positivas com os outros e domínio do ambiente. Este conceito é mais circunscrito e, no entanto, tem uma perspectiva holística do sujeito no ambiente em que vive.

Carvalho e Dias (2012) também revisitam o modelo de bem-estar social de Corey Keys em que o foco é a relação do sujeito com o ambiente. A grande preocupação de Corey Keys será “contemplar a influência do posicionamento dialógico do sujeito com a sociedade na elaboração do seu bem-estar” (p.139). As autoras concluem que o cuidado com a saúde deve ter em conta ambos os aspectos: saúde e doença mental. Para além disso, ressaltam a importância da promoção do bem-estar.

Outro termo importante muito associado ao bem-estar (e vice-versa) é “felicidade”. Apesar de a felicidade ser, de forma geral, estável ao longo da vida, ela pode variar bastante ou ainda de forma drástica. Veenhoven (1984) descreve as diferenças do seu conceito de felicidade e conceitos de bem-estar. O bem-estar pode se referir a grupos sociais ou ao indivíduo enquanto a felicidade é sempre individual. Da mesma forma o bem-estar pode ser referido a uma área da vida, como por exemplo, o bem estar no trabalho, enquanto que a felicidade é sempre global. Ou seja, o sujeito deve considerar sua vida como um todo para refletir sobre a própria felicidade. Por fim, o bem-estar pode ser considerado a partir do que pesquisadores julgam promotores de bem-estar enquanto que a felicidade é sempre um julgamento individual.

Outro conceito adjacente é qualidade de vida que o autor descreve como um conceito próximo ao de bem-estar. A qualidade de vida se refere ao indivíduo, mas pode estar mais relacionado com aspectos sociopolíticos, educacionais e de saúde. O autor também fala sobre problemas metodológicos ao se avaliar a felicidade, o que segundo Veenhoven (1984) se deve ao conceito de felicidade. Por partir de reflexão individual é natural que muitas pessoas não tenham feito em nenhum momento esta reflexão sobre a vida e a própria felicidade. Muitas avaliações podem induzir a esta reflexão geral uma vez que levam o sujeito a ponderar isoladamente diversas áreas da vida o que não é o mesmo que refletir sobre o panorama geral.

maria cristina lopes psicóloga da dança

REFERÊNCIAS:

Carvalho, MPMD, & Dias, MDLBR (2012). Saúde e mentais Desenvolvimento Pessoal positivo. Jornal Internacional de Psicologia do Desenvolvimento e Educação. 4 (1). 135-143.

Diener, E. (1994). Avaliar bem-estar subjetivo: Avanços e oportunidades. Indicadores de pesquisa social, 31 (2), 103-157.

Diener, E., Suh, EM, Lucas, RE, Smith &, HL (1999). Bem-estar subjetivo: Três décadas de progresso. Psychological Bulletin, 125 (2), 276-302. Retirado dehttps://search.proquest.com/docview/203449676?accountid=43959

Gross, JJ, e John, OP (2003). As diferenças individuais em processos de regulação dois emoção: implicações para afetar, relacionamentos e bem-estar. Jornal da personalidade e da psicologia social, 85 (2), 348-362. Retirado de https://search.proquest.com/docview/209812308?accountid=43959

Kirk, WB, e Ryan, RM (2003). Os benefícios de estar presente: Mindfulness e seu papel no bem-estar psicológico. Journal of Personality and Social Psychology, 84 (4), 822-848. Retirado de https://search.proquest.com/docview/209818265?accountid=43959

Ryff, CD (2014). Bem-estar psicológico revisitado: Os avanços na ciência e na prática da eudaimonia. Psicoterapia e psicossomática, 83 (1), 10-28.

Veenhoven, R. (1984). Condições de felicidade. Kluwer Academic Publishers. Dordrecht, Holanda.


COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:


Lopes, M. C. (2018, abril 5). A felicidade e o bem- estar: conceitos e aplicação no mundo da dança [Blog]. Recuperado de: http://www.mariacristinalopes.com/a-felicidade-e-o-bem--estar--conceitos-e-aplica--o-no-mundo-da-dan-a.html