Estudos demonstram que a dança pode ajudar crianças autistas

Nas investigações é possível perceber interesse em compreender os efeitos da dança em populações de autistas. Estes estudos tiveram início em meados do século XX. O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento com dois grandes critérios principais: o primeiro se refere a déficits na comunicação e interação social em vários contextos e o segundo se refere a padrões comportamentais restritos e repetitivos. Além destes dois grandes critérios principais há outros sintomas importantes, como alterações sensoriais e motoras.

Pode ser difícil e desafiador envolver autistas em atividades físicas devido a este funcionamento e características. Portanto, para trabalhar diretamente com autistas é importante o treinamento prévio do profissional e supervisão da atividade. Apesar desta dificuldade na formação profissional, os resultados de atividade física para autistas são promissores melhorando comportamentos repetitivos e interação social. A dança movimento terapia para populações autistas deve contar com adaptações. Alguns estudos utilizaram técnicas de imitação empática para viabilizar a percepção de si mesmo do autista. Esta técnica, chamada “mirror” foi utilizada em estudos pioneiros da área (Levy, 1988). Martin (2014) defende que o trabalho inicial do terapeuta é encontrar o ritmo natural da criança para que então o trabalho possa começar e os benefícios possam ser aproveitados.

Em recente estudo com 31 adultos autistas (Koch, Mehl, Sobanski, Sieber, & Fuchs, 2015) foram encontrados resultados positivos em consciência corporal, competências sociais, empatia, bem-estar e distinção eu-outro. A intervenção foi feita a partir de dança movimento terapia adaptada à população. Apesar da amostra pequena, estes resultados sugerem que a dança movimento terapia deve ser considerada como estratégia complementar também para população de adultos autistas. É necessário acentuar a importância de compreender as características desta população para que o trabalho seja eficaz e não produza efeitos negativos.

Algumas sugestões finais devem ser colocadas. Devido ao aspecto espectral do autismo é necessário avaliar cada aluno autista como único e compreender todos os sinais e gravidade de forma individual. Por este motivo o estudo do transtorno é imprescindível para que as técnicas funcionem e ofereçam os resultados esperados. Além do estudo sobre o transtorno é também importante o estudo específico das técnicas a serem aplicadas com estas populações. O treinamento do profissional também é outro ponto importante.

São muitas questões importantes a serem consideradas quando pensamos em dança para estas populações. A princípio estas questões que parecem inviabilizar o trabalho com autistas são justamente o que permite que os resultados sejam alcançados. Portanto, o próximo passo para os profissionais é a formação continuada e para as escolas é fomentar a formação de seus profissionais. Para pais e profissionais de saúde que cuidam de crianças, adolescentes ou adultos autistas a dança deve ser considerada como terapia complementar.

No cenário político brasileiro de baixo investimento em cultura, escolas e profissionais não se encontram em um momento de prosperidade e rotatividade de clientes. Porém, é o estudo que permite atingir (e ajudar) mais pessoas através da dança. Portanto, a formação é a via de mudança, saúde e prosperidade.


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crianças em roda dançando em aula de ballet

Maria Cristina Lopes. Sou formada pela PUC-Rio e mestre pela Universidade de Coimbra. Trabalho com a dança desde 2013 e desenvolvi o 1º curso de psicologia da dança do Brasil em 2016. Sou defensora da área de psicologia da dança, atendo bailarinos, ofereço consultoria para escolas e companhias e capacito professores e psicólogos nesta área promissora.
Contatos: mariacristinalopes@gmail.com | +55 21 990922685

maria cristina lopes psicóloga da dança
Maria Cristina Lopes Quando a mente está leve a dança flui Psicologia da dança

A dança permite que tenhamos emoções mais positivas além de diminuir sintomas de ansiedade e depressão e nos colocar em contato direto com o nosso corpo. A dança têm ajudado milhares de pessoas nestes aspectos. Com o advento da psicologia da psicologia da dança é possível investigar de forma mais eficaz estes aspectos em populações específicas. Apesar desta área ainda estar em ascensão é possível contar com suas pesquisas para compreender os efeitos da dança e possibilidades de intervenção a partir da dança. A partir destes estudos, a dança foi considerada por muitos pesquisadores uma terapia complementar. Isso significa que a dança serve como estratégia complementar a tratamento de diversas condições, como, por exemplo, a depressão.

Além de técnicas de dança já amplamente difundidas outra técnica que tem ganhado espaço é a dança movimento terapia. Esta modalidade é definida pela American Dance Therapy Association como o uso psicoterapêutico do movimento para promover questões emocionais, sociais, cognitivas e integração física do indivíduo com o propósito de melhorar bem-estar e saúde. Compreender como a dança e a dança movimento terapia podem auxiliar pessoas é a grande questão que levou pesquisadores a estudarem estas técnicas.

Praticantes de dança, professores de dança e bailarinos profissionais já relatam os efeitos da dança neles próprios, o que possivelmente fomentou as investigações neste sentido. Definitivamente os resultados destes estudos são encorajadores, porém, a psicologia da dança está apenas começando como ciência. Assim, ainda há muitos benefícios da dança ainda não descobertos, mas enquanto isso é possível divulgar alguns destes benefícios já estudados para que as pessoas compreendam como a dança pode ajudá-las.


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REFERÊNCIAS:

Hildebrandt, M. K., Koch, S. C., & Fuchs, T. (2016). “We Dance and Find Each Other” 1: Effects of Dance/Movement Therapy on Negative Symptoms in Autism Spectrum Disorder. Behavioral Sciences, 6(4), 24.

Koehne, S., Behrends, A., Fairhurst, M. T., & Dziobek, I. (2016). Fostering Social Cognition through an Imitation-and Synchronization-Based Dance/Movement Intervention in Adults with Autism Spectrum Disorder: A Controlled Proof-of-Concept Study. Psychotherapy and psychosomatics, 85(1), 27-35.

Koch, S. C., Mehl, L., Sobanski, E., Sieber, M., & Fuchs, T. (2015). Fixing the mirrors: A feasibility study of the effects of dance movement therapy on young adults with autism spectrum disorder. Autism, 19(3), 338-350.

Levy, F. J. (1988). Dance/Movement Therapy. A Healing Art. AAHPERD Publications, PO Box 704, Waldorf, MD 20601.

Scharoun, S. M., Reinders, N. J., Bryden, P. J., & Fletcher, P. C. (2014). Dance/movement therapy as an intervention for children with autism spectrum disorders. American Journal of Dance Therapy, 36(2), 209-228.

Martin, M. (2014). Moving on the spectrum: Dance/movement therapy as a potential early intervention tool for children with Autism Spectrum Disorders. The Arts in Psychotherapy, 41(5), 545-553.

Welling, A. (2014, novembro 8). What is Dance/Movement Therapy? 
[Blog]. https://adta.org/2014/11/08/what-is-dancemovement-therapy/


COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO: 


​Lopes, M. C. (2017, agosto 4). Estudos demonstram que a dança pode ajudar crianças autistas [Blog]. Recuperado de: http://www.mariacristinalopes.com/estudos-demonstram-que-a-dan-a-pode-ajudar-crian-as-autistas---psicologia-da-dan-a.html