Carreta (2006) afirma que o doce pode ser usado como forma de alívio e compensação com uso da gratificação sensorial. A dependência psicológica do doce implica em um forte desejo pelo açúcar. O doce também eleva os níveis de serotonina (conhecida como o hormônio do prazer ou da felicidade) o que pode indicar uma dependência física. Segundo Rosa, Slavutzky, Pechansky e Kessler (2008) a dependência é caracterizada por três sintomas principais: compulsão para busca e obtenção da substância; perda do controle em limitar este consumo; e a emergência de estados emocionais negativos (como a ansiedade e a irritabilidade) quando o a pessoa não tem acesso a essa substância. Alguns estudos apontam que o vício em açúcar parece ser real (DiNicolantonio, O’Keefe & Wilson, 2018; Hoebel, Avena, Bocarsly & Rada, 2009; Benton, 2010) apesar de outros estudos argumentarem contra (Westwater, Fletcher & Ziauddeen, 2016). Apesar de não ser comprovado que o açúcar pode provocar vício, a dependência psicológica parece ter bastante fundamentação.
Evidências mostram que o doce provoca a sensação de recompensa e produz desejo pelo açúcar o que pode ser comparado ao vício por drogras ilícitas (Ahmed, Guillem & Vandaele, 2013). Esta dependência pode levar à obesidade. Um dos comportamentos que podem provocar sinais de dependência é aderir às dietas restritivas. Estas "dietas da moda" podem levar à compulsão alimentar o que aumenta o desejo por doces (Gomes, 2013). A sensação de recompensa pode sustentar e perpetuar a busca por doces. Assim, o sujeito busca uma sensação de prazer com o uso dos doces quando está triste, com raiva, estressado ou com tédio, por exemplo. Ou seja, o doce pode virar uma forma de lidar com estados emocionais negativos. Isso também pode levar à compulsão alimentar e tornar-se um sintoma. A forma como se organiza a sociedade também pode produzir estresse e ansiedade o que pode provocar a busca pelo açúcar.
Maria Cristina Lopes. Psicóloga CRP5/47829. Mestre em Psicologia pela Universidade de Coimbra. Com cursos e atualizações nas áreas de neurociências, terapia cognitiva e psicologia do esporte. Ajuda pessoas a utilizar suas próprias capacidades para melhorar o bem estar, autoestima e ter mais qualidade de vida!
Compulsão por doces é forte como vício
Assim, quando não existe uma causa orgânica para o ganho de peso existe uma causa psicológica. Podemos incluir aí: causas comportamentais, neuropsicológicas e emocionais. Nós aprendemos a depender da comida para lidar com os problemas que surgem na nossa rotina diária. Mas a conta dessa dependência vem: compulsão e transtornos alimentares, além da falta de estratégias para lidar com estados emocionais negativos. No final das contas estamos dependentes da comida. Sempre que ficamos estressados pensamos em um brigadeiro. Nos livramos de outras estratégias de enfrentamento de nossos problemas, como conversar com amigos, família, buscar uma terapia e buscar momentos prazerosos. Assim, pouco a pouco a comida vira uma prisão. Também percebemos que estamos lotados de culpa por estarmos tratando nosso corpo desta forma.
O doce realmente tem o poder de viciar gerando compulsão e desejo. O açúcar também produz efeitos fisiológicos e neuropsicológicos associados ao prazer. E isso produz sintomas comportamentais, emocionais e cognitivos. Se você tem este vício provavelmente sua mente está constantemente voltada para os doces. Assim, você pensa em comida frequentemente, mesmo sem fome.
Referências:
Carreta, D. B. (2006). Açúcar: Seus efeitos sobre a sociedade sacarose dependente. [Monografia]. Nova Xavantina: Faculdade de Odontologia, Especialização em Saúde Coletiva, Nova Xavantina, Mato Grosso.
Rosa, M. A. C. D., Slavutzky, S. M. B. D., Pechansky, F., & Kessler, F. (2008). Processo de desenvolvimento de um questionário para avaliação de abuso e dependência de açúcar. Cadernos de Saúde Pública, 24, 1869-1876.
DiNicolantonio, J. J., O’Keefe, J. H., & Wilson, W. L. (2018). Sugar addiction: is it real? A narrative review. British journal of sports medicine, 52(14), 910-913.
Westwater, M. L., Fletcher, P. C., & Ziauddeen, H. (2016). Sugar addiction: the state of the science. European journal of nutrition, 55(2), 55-69.
Hoebel, B. G., Avena, N. M., Bocarsly, M. E., & Rada, P. (2009). A behavioral and circuit model based on sugar addiction in rats. Journal of addiction medicine, 3(1), 33.
Benton, D. (2010). The plausibility of sugar addiction and its role in obesity and eating disorders. Clinical nutrition, 29(3), 288-303.
Ahmed, S. H., Guillem, K., & Vandaele, Y. (2013). Sugar addiction: pushing the drug-sugar analogy to the limit. Current Opinion in Clinical Nutrition & Metabolic Care, 16(4), 434-439.
Gomes, M. (2013). De dieta em dieta: O que a ciência diz sobre as soluções milagrosas? ComCiência, (145).