Sim! A dança e as relações construídas neste espaço influenciam a vida no geral, uma vez que percebemos o aluno como um ser biopsicossocial, ou seja, quando o percebemos a partir de uma visão global do ser humano que o contempla nas medidas biológicas, psicológicas e sociais.
É evidente que a dança, circunscrita em si mesmo, é preenchida de informações, cultura, história e benefícios mais diretos para o corpo. Tudo isso é muito positivo para a bagagem cultural da pessoa. Mas a dança consegue ir além disso tudo.
Para a Psicologia da Dança, o professor deve cuidar do seu aluno com esta mentalidade. Por isso, é importantíssimo ter conhecimento sobre psicologia, pedagogia e outras áreas importantes para educar pessoas e, sobretudo, crianças.
Uma vez que a dança influencia nestes aspectos, quero trazer alguns benefícios da dança para as crianças. Assim, percebemos com mais clareza como o papel do professor de dança vai além de ensinar a dançar.
O uso de telas
Sabemos que o uso de telas prejudica o desenvolvimento infantil (Costa et al., 2021), incluindo comprometimento da linguagem, déficit cognitivo, dificuldades emocionais e comportamentais (de Alencar et al., 2022). A atividade de dança pode reduzir o tempo de uso de tela, incluindo celulares e televisão - mesmo em casa (Maniccia et al., 2011) e, portanto, frear estes prejuízos numa fase essencial do desenvolvimento.
A socialização
A socialização, em todas as fases da vida, também é um fator importante de proteção da saúde mental e contra transtornos mentais, como a depressão e a ansiedade, por exemplo. A dança oferece um espaço de socialização permeado pela dança, pelo movimento e pela arte. Em muitas escolas de dança isso se manifesta em alunos integrados, que se ajudam mutuamente a dançar, se desafiam e criam uma segunda “família”. Este suporte social é importante para o desenvolvimento emocional, além de ser fundamental para o desenvolvimento moral.
A criatividade
A criatividade é uma competência mental importante para lidar com a vida no geral. É importante para resolver problemas e tomar decisões, por exemplo. Um estudo foi feito com 27 crianças entre 8 e 10 anos e o experimento consistiu em uma sessão de improvisação de 10 minutos (Sowden et al., 2015). Os resultados apontaram que as crianças que passaram pelo experimento apresentaram melhores resultados na criatividade. Ou seja, a improvisação de dança pode estimular a criatividade em crianças.
A expressão com uso do movimento
Para Mallmann e Barreto (2012) a dança funciona como um veículo para se expressar. Segundo as autoras, as emoções podem criar inibições no movimento e a dança as estimula a entrar em contato mais intimista com estas emoções, favorecendo a própria saúde mental. A título exemplificativo elas trazem o caso de uma aluna com pouca competência técnica, mas que, após ser oferecida a oportunidade de se expressar e papéis em festivais, torna-se mais disposta, integrada ao grupo e mais competente tecnicamente.
O desenvolvimento é um termo muito abrangente que se refere à série de mudanças, sejam elas positivas ou negativas, saudáveis ou não, ao longo da vida. Uma das fases em que estamos mais suscetíveis a estas mudanças é a infância. Esta susceptibilidade se deve às alterações fisiológicas e à plasticidade cerebral que, em termos simples, significa a capacidade do cérebro de mudar e se moldar às necessidades do ambiente e aos estímulos.
Ou seja, este desenvolvimento não se restringe ao aspecto físico. Apesar de dividirmos o desenvolvimento em vários segmentos (físico, mental, emocional, etc.), isso acontece por mero fator de organização e estruturação. O indivíduo não se subdivide desta forma na vida real. Pelo contrário: ele carrega sua história, o seu movimento, a sua linguagem, o seu corpo, a sua mentalidade, a sua motivação e tantos outros aspectos consigo o tempo todo.
O papel do professor de dança é reconhecer isso e perceber o seu aluno como um indivíduo completo que carrega tantas nuances - e que é incapaz de deixar isso para trás quando entra na sala de aula. É uma falácia esperar que só vamos olhar para a técnica, o corpo e o movimento na dança. Todos os outros aspectos influenciam o próprio movimento e todos eles se influenciam mutuamente.
Percebendo o indivíduo como um ser completo, como um universo em si mesmo, o professor de dança consegue entender facilmente o seu importante papel no desenvolvimento infantil. Ele ensina a dançar, mas também educa em inúmeros outros aspectos: valores, relação com o corpo, autoestima, motivação, socialização, identidade, etc. É uma educação através do movimento e do corpo que impacta todo o desenvolvimento humano.
Qual é o papel do professor diante disso?
A dança é o instrumento do professor que vai estimular o movimento. Ela, em si mesma, promove benefícios para o desenvolvimento infantil. É o papel do professor diante disso, saber avaliar e estimular os seus alunos a partir da dança e de outras estratégias educativas. A Psicologia da Dança nos convida a olhar o indivíduo como um ser inteiro e complexo.
“Como estimular a socialização saudável dos meus alunos?”; “Como tornar meus alunos mais criativos?”; “Como permitir que se expressem mais livremente com o uso da dança?”; “Quais valores estão sendo endossados em sala de aula?”
Estas são algumas das perguntas que o professor deve fazer para realmente oferecer estes benefícios. Afinal, a dança pode promover a socialização saudável, mas também há espaços com relações extremamente competitivas. A dança pode promover a criatividade, mas em espaços extremamente rígidos ela não é estimulada. A dança pode trazer valores importantes, como cultura, confiança e disciplina, mas ela também pode apresentar padrões insalubres, como a valorização extrema da magreza.
A atitude e os conhecimentos do professor permitirão que a dança e o movimento sejam veículos do desenvolvimento saudável e feliz. O papel do professor é, portanto, ser um conhecedor em primeiro lugar da dança e, em segundo lugar, do ser humano para ensiná-lo e estimulá-lo adequadamente e de forma saudável.
REFERÊNCIAS
Maniccia, D. M., Davison, K. K., Marshall, S. J., Manganello, J. A., & Dennison, B. A. (2011). A meta-analysis of interventions that target children's screen time for reduction. Pediatrics, 128(1), e193-e210.
SOWDEN, Paul T. et al. Improvisation facilitates divergent thinking and creativity: Realising a benefit of primary school arts education. Psychology of Aesthetics, Creativity, and the Arts, v. 9, n. 2, p. 128-138, 2015.
Costa, I. M., Ribeiro, E. G. M., de Souza Fernandes, G., Luiz, L. W. S., de Miranda, L. C., & de Souza Teixeira, N. (2021). Impacto das Telas no Desenvolvimento Neuropsicomotor Infantil: uma revisão narrativa Impact of Screens on Child Neuropsychomotor Development: a narrative review. Brazilian Journal of Health Review, 4(5), 21060-21071.
de Alencar Rocha, M. F., de Alencar Bezerra, R. E., de Almeida Gomes, L., Mendes, A. L. D. A. C., & de Lucena, A. B. (2022). Consequências do uso excessivo de telas para a saúde infantil: uma revisão integrativa da literatura. Research, Society and Development, 11(4), e39211427476-e39211427476.
Mallmann, M. D. L. C., & Barreto, S. (2012). A dança e seus efeitos no desenvolvimento das inteligências múltiplas da criança. Instituto Catarinense de Pós-Graduação.
COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:
Lopes, M. C. (2022, outubro 01) O papel do professor de dança no desenvolvimento infantil. [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/
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