REFERÊNCIAS:
Ringham, R., Klump, K., Kaye, W., Stone, D., Libman, S., Stowe, S., & Marcus, M. (2006). Eating disorder symptomatology among ballet dancers. International Journal of Eating Disorders, 39(6), 503-508.
Rodrigues, Y. C. F., Reis, N. M., Vieira, M. D. C. S., Machado, Z., & Guimarães, A. C. D. A. (2017). Fatigue and symptoms of eating disorders in professional dancers. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, 19(1), 96-107.
Jáuregui-Lobera, I., Bolaños-Ríos, P., Valero-Blanco, E., & Ortega-de-la-Torre, Á. (2016). Eating attitudes, body image and risk for eating disorders in a group of Spanish dancers. Nutricion hospitalaria, 33(5).
COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:
Lopes, M. C. (2017, agosto 18). O bailarino doente: a relação com o peso, a imagem e a comida [Blog]. Recuperado de: http://www.mariacristinalopes.com/o-bailarino-doente--a-rela--o-com-o-corpo..html
O cuidado com o corpo é extremamente importante no mundo da dança, em especial em determinadas modalidades. Questões como peso, corpo tonificado e alongado ocupam a mente e o discurso de bailarinos. A alimentação também acaba sendo uma questão importante. Além disso, em muitos casos os próprios professores têm grande exigência e cobrança em relação ao cuidado ao corpo e alimentação saudável. Porém, o que fazer quando o bailarino não consegue corresponder a estas expectativas?
O bailarino pode desenvolver autoimagem e autoconceito negativos. O autoconceito é referente a diversos fatores: autoimagem, personalidade, comportamentos, etc. Nestes casos o autoconceito negativo está relacionado à percepção de que ele mesmo não tem controle sobre o próprio corpo ou a alimentação e não consegue corresponder às cobranças. Este bailarino poderia ser ajudado por psicólogos, nutricionistas, psiquiatras e outros profissionais que buscam cuidar da alimentação, do corpo e de questões psicológicas.
Porém, quando o bailarino não busca ajuda e tenta dar conta de tudo por si mesmo, podem surgir muitos problemas. Geralmente estes problemas estão relacionados à busca pelo controle que ele acredita que não possui. E a principal forma de obter o controle novamente é através da alimentação restritiva ou de comportamentos compensatórios.
>> Leia também: O outro lado da dança: imagem corporal negativa e transtornos alimentares
Basicamente, a alimentação restritiva se refere a comer uma quantidade muito menor do que o necessário e o comportamento compensatório é usar algum método para compensar as calorias ingeridas (como fazer exercícios em excesso, utilizar laxantes ou purgação). Quando não há cuidado profissional o descontrole aparece de forma gritante: desmaios devido a ingestão mínima de alimentos, episódios de compulsão alimentar, lesões devido aos exercícios excessivos e outros problemas de saúde.
Em muitos casos bailarinos, professores e responsáveis negligenciam estes sintomas por não terem uma visão do todo. Alguns sinais problemáticos podem indicar a necessidade de atenção profissional, como: histórico de autoimagem negativa, dificuldade de verbalizar questões pessoais, expectativas altas de terceiros em relação a autoimagem e luta com o peso. É importante ressaltar que os sintomas decorrentes de transtornos alimentares não se referem apenas a autoimagem e alimentação. Há uma forte alteração das emoções, estresse constante, ansiedade e alterações comportamentais.
O que o bailarino não percebe diante de toda esta carga emocional é que na verdade ele não precisa ser capaz de controlar tudo. Obviamente a dança pede um cuidado com o corpo. Mas isso pode ser feito através de um trabalho integrado com nutricionistas, psicólogos e professores. É preciso saber disso principalmente por que o bailarino doente psicologicamente não possui um desempenho ideal.
Infelizmente a prevalência de transtornos alimentares em bailarinos é alta. Ringham et al. (2006) estudaram a prevalência de transtornos alimentares em 29 bailarinos (média de idade de 19,66 anos) recrutados em companhias e escolas de dança. Os dados coletados a partir destes sujeitos foram comparados com dados de outros estudos. Foram utilizados inventários e entrevistas para diagnosticar transtornos alimentares e examinar sintomas.
Muitos participantes apresentaram comportamentos compensatórios e de purgação. Bailarinos, de forma geral, apresentaram atitudes e comportamentos similares aos sujeitos com transtornos alimentares. A maioria dos sujeitos (83%) apresentou transtornos alimentares. A partir destes dados o estudo comparativo indica uma alta prevalência de transtornos alimentares em bailarinos. Resultados semelhantes já foram encontrados por outros autores. Em estudo sobre imagem corporal foi verificado que bailarinos, de forma geral, possuem distorções de imagem corporal (Jáuregui-Lobera et al., 2016). Os autores defendem que os problemas relacionados a imagem corporal são similares em homens e mulheres bailarinos, o que não é observado em outras populações. Portanto, para populações de bailarinos é necessária maior atenção sobre a imagem corporal para ambos homens e mulheres.
Outras pesquisas também são relevantes para compreendermos melhor este fenômeno em bailarinos. Rodrigues et al. (2017) desenvolveu estudo com 108 bailarinos de Ballet Clássico ou Dança Contemporânea de companhias de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Verificou-se que a fadiga está relacionada à bulimia (Rodrigues et al., 2017). Portanto, a atenção à qualidade de vida e emoções de bailarinos se faz importante e pode ser um indicador de transtornos alimentares.
Sintomas de imagem corporal possuem causas diversas. O que compreendemos a partir destes estudos é que a prevalência de sintomas e transtornos em bailarinos é alta e que é necessária especial atenção em escolas e companhias de dança para homens e mulheres. É recomendado que estas instituições contem com o trabalho de psicólogos, nutricionistas e outros profissionais que possam auxiliar na promoção de saúde e bem-estar dos alunos e bailarinos.
>> Leia também: Distúrbios alimentares na dança: o perfeccionismo e a influência do meio
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Psicologia da dança
"A psicologia pode ajudar o universo da dança promovendo bem-estar, melhora de rendimento e de aprendizagem e muito mais!" Maria Cristina Lopes.
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