A evolução do pensamento racional trouxe outras conotações para a dança. Elas passaram a serem praticadas em momentos de importância da vida dos cidadãos, não apenas como contato com os deuses, mas como momento de congregação. Conta Magalhães (2005):
As vivências de cada pessoa podem levá-la a ver a ver a dança de maneiras diferentes: para alguns é uma forma de arte, para outros, diversão, e há aqueles que veem nela uma forma de manter a boa saúde e até a boa forma. Mas será que existe alguém que a veja como um ato sagrado?
Para Magalhães (2005) podemos considerar como ato sagrado aquele "atribuído ao de consagração; ato ou efeito de consagrar algo através de uma cerimônia, de um ato cerimonial de sagração". Foi assim que a dança surgiu: os primeiros registros datam de mais de 14 mil anos e remontam um período em que o homem era caçador e coletor. Os animais representavam seu sustento: alimento, peles e armas eram providos aos seres humanos por eles. E sua dança representava esse universo. Figuras em cavernas, objetos de uso diário e artesanais mostram homens em movimento, trajando peles especiais.em rituais que, acredita-se, buscavam elevar o ser humano a um plano superior ao seu próprio.
A mudança que transformou o homem de coletor a produtor possibilitou o estabelecimento de cidades, e com elas, grupos específicos com cultura e danças próprias. Para alguns deles, além de rituais, as danças eram parte do cotidiano e tinham por objetivo conectar os seres comuns aos deuses. Assim era na Grécia. A dança era considerada um dom dos imortais, dado aos mortais como meio de comunicação entre homens e deuses. Ritos religiosos, cerimônias cívicas, festas, a educação das crianças e o treinamento militar eram locais onde a dança tinha espaço e mantinha seu caráter sagrado, embora constante no cotidiano da comunidade.
Na cultura grega, a dança era praticada em templos e situações específicas, como nascimentos, casamentos, mortes, guerras, colheitas e muitos outros. Cada dança foi adquirindo gestos próprios, o que hoje chamaríamos de passos, adequados a determinados contextos e a quais deuses se invocava em cada ritual. Nesse sentido, podemos considerar que ali estavam sendo praticadas o que atualmente daríamos o nome de coreografias. Muitas das técnicas que utilizamos na dança também vieram da dança grega, como é o caso da meia ponta, que segundo os registros, acreditava-se que conferia maior simetria ao corpo.
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"Entre as danças cotidianas podemos citar a de Banquete. Era realizada por uma bailarina profissional (assim considerada por fazer uso da técnica) e tinha acompanhamento de tocadores de aulos (espécie de flauta doce). As Danças de Banquete eram provocantes e muitas vezes faziam uso de acrobacias. As bailarinas trajavam roupas especiais que deixássem à mostra parte pudicas do coro, como seios, coxas e nádegas." (Magalhães, 2005)
Ainda na esteira do pensamento racional, Sócrates, por exemplo, considerava a dança como uma atividade que forma o cidadão por completo: provia o corpo de boas proporções, saúde, reflexão estética e filosófica - era um equilíbrio perfeito entre corpo e espírito, capaz de proporcionar conhecimento e sabedoria. Os pensamentos de Sócrates já parecem trazer a dança para bem mais perto de como a vemos nos dias atuais.
Em suma, a dança, hoje considerada como uma das artes mais complexas, nasceu nos tempos remotos como um ato sagrado e como parte essencial do cotidiano do ser humano, cujo objetivo era elevá-lo a um plano superior a si mesmo. Ainda que não cultuemos deuses, espíritos e entendidades divinas por meio da dança, teria ela ainda o mesmo potencial nos dias atuais - de levar os homens a um estado de transe corpóreo, mental e espiritual?
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REFERÊNCIAS:
Magalhães, M. A dança e sua característica sagrada. Existência e Arte - Revista Eletrônica do Grupo PET - Ciências Humanas, Estética e Artes da Universidade Federal de São João Del-Rei, - Ano I - Número I - janeiro a dezembro de 2005.
COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:
Lopes, M. C. (2020, fevereiro 03). Em transe: a dança e suas origens sagradas [Blog]. Recuperado de: http://www.mariacristinalopes.com/em-transe--a-dan-a-e-suas-origens-sagradas.html
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