Já para Lee (2021), outros fatores também podem ser trabalhados junto aos adolescentes, sobretudo para que mantenham a dança como um objetivo profissional:
- Estabelecer altas expectativas: aqui, não se trata de colocar objetivos inalcançáveis para o adolescente. Pelo contrário, trata-se de estimular nesse jovem a capacidade de sonhar e traçar objetivos para a sua dança, e orientá-lo sobre quais são os melhores caminhos para alcançar suas metas.
- Proporcionar oportunidades saudáveis de competição: assumir riscos e enfrentar desafios são fatores importantes para motivação e o desenvolvimento do bailarino da adolescência. Dançarinos jovens precisam de projetos que os estimulem a ir além, a enriquecer suas habilidades e a transformar trabalho e esforço em resultados palpáveis e gratificantes.
- Ensinar a resiliência: é normal que o processo de estabelecer desafios também gere frustrações, mas esse é exatamente o processo que promove aprendizado nessa etapa da vida. Em meio às mudanças da adolescência, aprender a lidar com as adversidades é uma forma de construir indivíduos mais resilientes, que não desistirão da modalidade e nem de seus objetivos tão fácil.
- Cultivar a imaginação: no processo de autodescoberta da adolescência, é preciso deixar que os indivíduos experimentem o tipo de dançarino - e pessoa - que querem ser. Por isso, incentivá-los a ter outras atividades, ou mesmo colocar desafios que envolvam a pesquisa, a criação e a responsabilidade podem ser cruciais para desenvolver a imaginação, formando dançarinos não apenas com técnicas excelentes, mas com criatividade para cultivarem a arte no futuro.
- Valorizar o desafio, a contribuição e a criatividade: por fim, esse tópico é quase um resumo dos anteriores, e tem como premissa a criação de um ambiente onde os adolescentes possam sonhar, aprenderem que trabalho e esforço levam à realização de objetivos e compreenderem o quão importante é a colaboração entre os pares para a construção de um ambiente mais saudável e profícuo ao desenvolvimento na dança.
REFERÊNCIAS:
Lopes, M.C. (2019). Curso psicologia da dança: temas e perspectivas. Editora Garcia. Juíz de Fora, MG.
Shannon, C. S. (2016). Exploring factors influencing girls' continued participation in competitive dance. Journal of Leisure Research, 48(4), 284-306.
Lee, S. A. (2001). Adolescent issues in a psychological approach to dancers. Journal of Dance Medicine & Science, 5(4), 121-126.
COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:
Lopes, M. C. (2021, novembro 01) Como motivar os adolescentes a continuar dançando. [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/
Contudo, as mudanças corporais, mentais e emocionais provocadas pela puberdade, e que dão início à adolescência, recaem em um período de confusão, onde o adolescente sente-se vulnerável e perdido sobre sua própria identidade. Confuso sobre quem ele mesmo é, esse jovem começa a sentir a necessidade de se descobrir e se autoafirmar, ao mesmo tempo em que lida com mudanças que afetam diretamente o seu rendimento no esporte: o desenvolvimento dos membros e partes do corpo, por exemplo, pode fazer com que algumas técnicas precisem ser dominadas novamente; os interesses mudam, e a vida social ganha uma importância maior à medida que o adolescente percebe a necessidade de se tornar independente.
Nesse ponto, entra também um segundo aspecto importante para a permanência ou não do adolescente na dança: o ambiente a que está submetido. Principalmente em modalidades como o balé clássico, onde a cobrança por um físico ideal magro e pré-púbere pode ser intensa, não é difícil concluir por que aqueles que não se encaixam nesse padrão durante e após as profundas mudanças físicas da adolescência podem abandonar a modalidade. A adolescência, por si só, é dolorosa em muitos aspectos e exige muito de alguém que era só uma criança há não muito tempo; se submetido a ainda mais cobranças com relação a seus corpos, muitos jovens podem desistir da prática e até chegam a desenvolver transtornos alimentares e psicológicos.
Por fim, outro ponto é fundamental para a não evasão da dança no período da adolescência: trata-se da sociabilidade e da rede de apoio construída pelo indivíduo. O contato com o outro é condição essencial para que os adolescentes possam desenvolver a sua identidade, de forma que construir relações de amizade e companheirismo com seus colegas de dança pode ser um fator importante para que permaneçam praticando a atividade, seja como um hobby, seja profissionalmente. Além disso, permitir a eles investir parte de seu tempo em outras atividades de interesse e em amizades fora da dança é um bom caminho para a adesão do adolescente à modalidade, promovendo um contexto em que a prática não exija todo o seu tempo livre e nem faça com que ele se sinta como se estivesse perdendo oportunidades e experiências.
Como incentivar a prática da dança na adolescência
Apesar de tantos fatores que podem fazê-lo desistir, a prática da dança pode ser extremamente benéfica para o adolescente, especialmente em ambientes que incentivem o desafio, o esforço e a colaboração. Além disso, a dança é, para além de uma atividade física, uma forma de expressão, que pode contribuir muito para o processo de autodescoberta e construção da identidade da adolescência. Através dela, o adolescente é capaz de manifestar sentimentos que nem sempre estão tão claros nem para si mesmo em palavras.
Por isso, é preciso que se promova um ambiente propício para que o indivíduo continue praticando a modalidade em um período tão desafiador de sua existência. Segundo Shannon (2016), três fatores são importantes para incentivar a continuidade da prática da dança na adolescência:
Muitas modalidades de dança, tais como o balé clássico, o balé contemporâneo, o jazz e as danças urbanas, têm a sua prática iniciada ainda na infância. Mas por que após anos de dedicação à prática, levando na bagagem incontáveis aulas, apresentações e competições, muitos dos adolescentes resolvem abandonar a dança? O que faz dessa fase da vida um dos momentos de maior evasão da prática da atividade?
Embora cada pessoa tenha sua própria história e motivação, é possível encontrar pontos em comum que fazem com que muitas pessoas desistam de dançar na adolescência. E o primeiro desses pontos diz respeito ao próprio processo de desenvolvimento do ser humano.
Como aponta Erikson (como citado em Lopes, 2019), todos passamos por fases de desenvolvimento nas quais nossos conflitos internos mudam drasticamente, mudando também nossos interesses, prioridades e conflitos ao longo do tempo. Para o autor, ao longo da segunda infância, que geralmente compreende as idades entre 6 e 11 anos e é quando as crianças dão início a alguma modalidade de dança, o conflito do indivíduo é baseado na produtividade x inferioridade - o que ajuda a entender o interesse da criança em melhorar através de aulas, eventos, apresentações e outras atividades na dança.
>> Leia também: Consciência corporal e expressão: por que a dança deve ser ensinada às crianças ainda na escola
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Psicologia da dança
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