Tratamentos para a ansiedade
Aprender a lidar com a ansiedade é importante, mas não quer dizer que os dançarinos - ou qualquer pessoa que sofra com essa questão - precise fazer isso sozinho. Muitas vezes, é essencial a busca por um profissional qualificado, que possa ajudar o indivíduo a compreender suas próprias emoções e a assumir maior controle sobre elas.
O uso de fármacos é uma opção que deve ser acompanhada de perto por um psiquiatra, que fará um diagnóstico e elaborará o tratamento. Porém, esse tratamento mostra mais efetividade se combinado ao conduzido por um psicólogo, com foco especial para a terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Segundo Menz at. al (2018), a terapia cognitivo comportamental aparece como uma opção importante para o tratamento da ansiedade porque “parte do princípio de que o ser humano avalia constantemente a relevância dos acontecimentos, tendo as cognições associadas às reações emocionais”. Em outras palavras, para os autores, a ansiedade é gerada não pelo evento estressor em si, mas pela interpretação e relevância que o indivíduo dá a ele.
Para diminuir a ansiedade, a TCC prevê a adoção de técnicas cognitivas (que lidam diretamente com os pensamentos do indivíduo e a sua própria maneira de perceber o mundo) e comportamentais (que analisam e mudam o comportamento, buscando observação e experimentação sobre os efeitos nas emoções do indivíduo).
Para além das estratégias de enfrentamento, uso de medicamentos ou terapias, trazer para o debate coletivo a questão da ansiedade (e outros transtornos psicológicos) na dança é essencial para o bem-estar e melhor desempenho dos dançarinos. O corpo que dança é, além de um corpo, humano, com todas as suas inúmeras questões, inseguranças e medos, que devem ser trabalhados junto ao bailarino tanto quanto as questões técnicas e físicas. Só assim será possível formar dançarinos verdadeiramente saudáveis, confiantes e talentosos.
REFERÊNCIAS
Constantino, A. C. S., Prado, W. L., & Lofrano-Prado, M. C. (2011). Ansiedade em bailarinos profissionais nas apresentações de dança. Conexões, 8(3), 146–155.
Leite, G. S., Mello, M. T., Hanna, K. M. (2016). Competição na dança clássica: um fator ansiogênico negativo?. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte [online], 30(3), 793-803.
Menz, P. R., Schneider, L. F., Joner, C., Samuelsson, E., Bergamini, G., Rocha, V. H., Moura, I. (2018). A terapia cognitivo-comportamental no tratamento do transtorno de ansiedade generalizada. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente, 9(1).
Pereira, C., Simas, J., Boing, L., Machado, Z., Matias, T., Guimarães, A. (2014). Nível de ansiedade em bailarinos pré e pós - competição. R. bras. Ci. e Mov, 22(4), 116-125.
Silva, C. A. (2012). A ansiedade em bailarinos. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho. Rio Claro, São Paulo, Brasil.
Tertuliano, I., Oliveira, V., Maciel, V. Santos, I. (2019). Ansiedade pré-competitiva em atletas de diferentes esportes: um estudo de revisão. Revista Mundi Saúde e Biológicas, 4(2).
Zamignani, D. R., Banaco, R. A. (2005). Um Panorama Analítico-Comportamental sobre os Transtornos de Ansiedade. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 7(1), 77-92.
Zapelini, A. C., Brasilino, F. F., Morales, Pedro J. C. (2015). Nível de ansiedade e estresse em bailarinos profissionais de danças urbanas: uma análise pré-competição do 32° Festival de Dança de Joinville. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade da Região de Joinville, Joinville, Santa Catarina, Brasil.
COMO FAZER REFERÊNCIA A ESTE ARTIGO:
Lopes, M. C. (2022, outubro 27). Ansiedade e dança: estratégias de enfrentamento e tratamento. [Blog]. Recuperado de: https://www.mariacristinalopes.com/ansiedade-e-dan-a--estrat-gias-de-enfrentamento-e-tratamento.html
Estratégias de enfrentamento
Seja no dia a dia ou em momentos de maior tensão, como em apresentações ou competições, existem estratégias que podem ser adotadas para enfrentar a ansiedade. É importante refletir que esse sentimento, que é natural e inclusive propício para momentos de palco, não vai desaparecer. Mas é possível entendê-lo e diminuir sua intensidade, a fim de alcançar maior bem-estar e melhor desempenho na dança.
As estratégias de enfrentamento se baseiam em dois princípios básicos principais: diminuir os efeitos indesejáveis das emoções negativas e potencializar os efeitos desejáveis das emoções positivas. Algumas formas de lidar com as emoções negativas são:
No cotidiano, o bem-estar psicológico também depende da valorização das emoções positivas, que evitam o desenvolvimento e ruminação de pensamentos disfuncionais. Algumas estratégias para potencializar os efeitos desejáveis das emoções positivas são:
A ansiedade pode ser definida como um estado emocional desagradável acompanhado de um mal-estar físico, geralmente relacionado à expectativa de um evento futuro adverso - muitas vezes, proporcionalmente muito maior que o real (Zamignani & Banaco, 2005). Os transtornos de ansiedade envolvem uma preocupação excessiva, pontual ou generalizada, a respeito de um ou vários acontecimentos futuros.
De maneira geral, a ansiedade tem como sintomas físicos os batimentos cardíacos acelerados, sudorese e náuseas (Silva, 2012) mas também traz alterações importantes no comportamento, como dificuldades de coordenação, e também na cognição como falta de concentração (Constantino et. al, 2010).
A ansiedade é gerada a partir da interação do indivíduo com o ambiente, e pode ser divida em dois tipos. Como explicam Tertuliano et al. (2019) a ansiedade-estado se caracteriza por uma reação direta a uma situação temporária, ou seja, a apresentação de sentimentos de preocupação, tensão ou nervosismo diante de um estímulo ou um acontecimento específico. Já a ansiedade-traço diz respeito à personalidade do indivíduo - é um estado mais durável e permanente, uma tendência do indivíduo a avaliar as situações como mais ameaçadoras.
Hoje, diversos estudos da psicologia da dança já mostram que a ansiedade é um transtorno comum aos ambientes de dança. Ela é mais facilmente percebida em momentos como apresentações e competições - onde guardam uma semelhança com ambientes esportivos - e para os quais tanto a ansiedade-traço quanto a ansiedade-estado influenciam para níveis mais altos de nervosismo (Constantino et. al, 2010; Pereira et. al, 2014; Leite et. al, 2016; Zapelini et. al, 2015).
Mas é preciso considerar que a própria cultura estabelecida nos espaços de dança pode favorecer o desenvolvimento de quadros de ansiedade. Ela envolve tensões, necessidade de aperfeiçoamento e perfeccionismo, e isso pode gerar uma pressão psicológica para o dançarino, sobretudo em momentos decisivos como as apresentações. Fatores como não conseguir executar um movimento, medo de errar, esquecer os passos, agradar a plateia, professores e colegas e atender às próprias expectativas ou de outrem podem gerar desconforto e ansiedade (Constantino, Prado & Lofrano-Prado, 2010).
Todos os fatores físicos, comportamentais e psicológicos envolvidos na ansiedade, que podem ser mais ou menos intensos, vão interferir na performance do bailarino, uma razão pela qual é tão importante para esse grupo (seja profissional ou amador) aprender a lidar com a ansiedade. A níveis moderados, ela deve contribuir para aumentar a ativação e atenção para os momentos-chaves como exibições (Silva, 2012); em excesso, certamente provocará falhas e, no cotidiano, gerará prejuízo para a saúde e bem estar do dançarino.
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